sobre a autora

Livre fluxo - 30 minutos sem tirar a caneta do papel

terça-feira, 17 de março de 2009

El Niño chegou com tanta força faz algum tempo. Não consigo me lembrar se foi há cinco, seis ou sete anos, o que sei é que mudou a forma de muita gente ver o mundo. De repente, não existia mais verão nem inverno, de repente tudo que a gente sabia sobre clima veio abaixo. Foi um tal de seca em janeiro, chuva em agosto, o mundo estava mesmo de cabeça para baixo. Junto ao aquecimento global, foi uma verdadeira forma de mostrar que já era mesmo a época do fim dos tempos. As pobres avós, sentadas em suas cadeiras de balanço fazendo croché, resignavam-se, balançando a cabeça com aquele temporal no meio de setembro. Os pais, que tinham ensinado a seus filhos o que é inverno e verão desde pequenininhos, assistiam confusos ao noticiário na TV. As calotas polares se derretiam a olhos vistos e as cenas de filhotes de ursinhos se perdendo no meio de oceanos gélidos tornou-se cada dia mais comum. "O sertão vai virar mar", eu me lembrava. Na minha imaginação fértil de adolescente - e é aí que a gente vê o quanto ficção e realidade se misturam, pois esse meu pesadelo aconteceria, de fato, anos mais tarde no tsunami asiático - só ficaria o Cristo sobre a água, que viria em forma de enchentes violentíssimas desde a Antártida (me pergunto agora se era no Ártico ou na Antártida que as calotas de derretiam). Mas de qualquer forma, eu pensava, bem é que aquilo não ia acabar. A água seguiria até Brasília e eu sabia que não traria aquela praia linda que a gente tanto desejava, mas somente fome e destruição. Com o passar do tempo, mais e mais continentes se iriam afundando dentro daquela calamidade sem fim.
Mas acabou que tamanha tragédia não chegou nem perto de acontecer - pelo menos, ainda não. No lugar daquele menino, veio La Niña, que até hoje eu juro que não sei direito o que é. Porque se um é o oposto do outro, então oras, tudo voltou ao normal? Acho que, para saber bem diferenciar tudo isso, só mesmo quem vive nesses países de maiores latitudes, onde as estações do ano são mais bem-definidas. Sabe, aquele pessoal que não pode ir para a rua fazer boneco de neve com seus filhos porque o gelo derretia rápido demais, que contava com a chuva que não veio e fez um milhão de rezas sem acreditar que seus deuses os haviam abandonado. Só o pescador que coçou a cabeça ao recolher uma rede repleta de sardinhas que estavam perdidas em um lugar do oceano onde não deveriam estar. Para essa gente toda, essa história de mudança climática deve fazer algum sentido. Mas quem sofreu mudanças pessoais que acompanharam as do clima pode nem ter percebido nada disso; é tudo questão de costume. Veja o meu caso, por exemplo. Eu vim da secura de Brasília para uma umidade eternamente poluída aqui de São Paulo. Eu odeio essa tal dessa garoa com todas as minhas forças, e isso já vem de uma certa resistência que o meu nariz tem a muita umidade em cima dele. Qual não é a minha surpresa ao ouvir até hoje de alguns paulistanos que "São Paulo não é mais a terra da garoa". Gente, garoa aqui todo dia, o tempo todo, aquela chuvinha chata todo fim de tarde. Se isso não é garoa, eu não sei mais dizer o que é não.
Veja só você, até a mudança de clima é uma coisa relativa. O que será, meu Deus, que ainda é absoluto nessa vida?

3 comentários:

Unknown disse...

Opa, umas taças de vinho e a gente pode discutir esse lance de aquecimento global a noite toda!! :P

Reeeeeeeps, q saudade!!! Fique vc sabendo q eu super acompanho tudinho aqui nesse mundo roxo! E q vou estar em bsb (quiçá em sp tb...) daqui a alguns dias! :D :D :D
Quando e onde te vejo??? Necessito!!
Bjoooo fica com Deus!!!

Ana Flávia disse...

Repsss!

Amei seu texto!
Quero ler sempre!

Beijocas!

Unknown disse...

Mas menina, aqui a coisa tá feia tb, sabe? E não era pra estar chovendo sem parar agora? Pois então, ate semana passada tava um calor horroroso! E ano passado? Quase 4 meses de seca?
Sabe a história que JK esqueceu o mar? Esqueceu nada, menina. Foi tudo friamente calculado. um dia ele chega hahaha
Bjus