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Folclore

domingo, 1 de março de 2009

Eram apenas dois sorrisos.
Dois dos mais sinceros sorrisos que eu já vi na vida. Honestos, porque situados dentro de um dos mais despatriados lugares de um país: uma multidão de gente, cores, moedas e línguas. Nessa perturbação, em que ninguém parecia se entender direito, eles se completavam. Trabalhavam, é certo, mas com uma alegria, uma felicidade que só aquele olhar podia revelar. Numa cidade musical como aquela, o segredo da verdade era simples. Uma dança.
Uma dança rústica, de passos firmes, folclórica como seu próprio nome já diz. Com roupas tão pesadas que chegavam a dificultar qualquer movimento. Mas isso só percebia - é claro - quem não se deixava levar pelas palmas do velhinho que, sentado e com a vista cansada de quem vive daquilo há tanto tempo, ditava o ritmo do casal. O pescoço da menina estava tão enrijecido que prometia uma noite inteira de torcicolo; o bate-pés do rapaz era tão firme que eu poderia ver seus músculos mexerem mesmo sob o tecido grosso das calças por dentro das botas. Mas os dois estavam felizes.
E era com essa felicidade que eles dançavam e enfrentavam horas e mais horas de rodopios quase sem parar. Era com graça, com emoção e sempre com aquele sorriso revelador nos lábios. Não sei se eram amantes, não sei se irmãos ou somente bons amigos. Talvez não fossem nada, seus laços se estreitassem quando chegassem para um dia longo de trabalho e desmanchassem assim que as roupas típicas fossem deixadas ao chão. Eu não sei o que eles eram. Só sei que no meio daquele mundo de gente com experiências tão profundas quanto vazias, estavam ali para desconcertar quem se deixasse ser desconcertado. E impressionar, e causar leveza e choro, e pesar e reflexão, e dúvidas e disparates.
E suas armas não iam além de dois belos e despretenciosos sorrisos.

2 comentários:

Unknown disse...

Ahhhh Buenos Aires hehehe

Unknown disse...

bom demais