sobre a autora

Damn it

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Não quero mais olhar para essas pessoas supertatuadas, ou ficar vendo esses grupos de meninas moderninhas que usam óculos escuros de coração, regata branca e cartola listrada. Eu cansei de não ter mais nada na minha cabeça e da última recordação que levo de qualquer coisa seja você. Cansei de saber que a gente não tem nada a ver, e ficar me perguntando afinal, quem é que tem. De chegar em casa, ver um casal entrando pelo portão e me sentir sozinha. De sentir preguiça de me arrumar porque não tenho para quem. De garantir que estou olhando para todos os lados e não estou perdendo nada, nenhuma possibilidade, sendo que na verdade sei que essas coisas não funcionam desta forma.

Cansei desta fase de vacas anoréxicas.

A história da paixão

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Tudo começou com um cartão. "Eu fico com você e você fica comigo", ele dizia. Eu era jovem, acreditava que essa frase poderia fazer muito sentido. Mas, na verdade, você me ensinou que algumas ousadias não podem ser levadas adiante. E me fez sentir cafona pela primeira vez.
Depois teve você, ao meu lado na sala de aula. Você fofo, de olhos de esmeralda - eu me lembro de um poema assim, sobre o olhar e o sorriso. A forma como você me fazia sentir especial e querida, o coração se jogar quando eu te via, a paixão de verdade. A carta. E o "desculpe, não sinto o mesmo", com tanta consideração.
De você, eu lembro do alto da escadaria do segundo andar do colégio. Distância. Que começou com a proximidade de uma dança colada, apenas uma troca boba de palavras sem importância que se seguiria para uma quase obsessão, uma espera sofrida, planos e maracutaias. Foi um beijo descuidado, para satisfazer um sonho meu que não era seu. E depois, indiferença.
Até que veio você, finalmente. Depois de tanta espera, alguém que levei cinco meses para convencer que valia a pena. E que se entregou completamente e também pela primeira vez. Que respeitou, acompanhou e apostou, apesar de todas as diferenças que seriam decisivas. Que levariam a tantas brigas que eu já não consigo mais nem me lembrar direito. Que me faria chorar tanto, e por quem eu faria grandes loucuras. O primeiro relacionamento e o primeiro problema sério. A incapacidade. O alívio depois do término. A gandaia pública.
Você apareceu um mês depois e, mesmo que hoje o considere um cara bem legal, classifiquei-o por muito tempo como o maior exemplar dos cafajestes. Não sentiu nada, mas me fez acreditar. Uma bobagem para você. Para mim, um suspiro profundo.
Você também foi muito esperado. Lembro de tudo como se fosse um filme belo, raro. Porque você foi raro, e coloriu a minha vida com tons que eu nem sabia que existiam. Vi fogos de artifício, vi o mundo parar, fechei os olhos e queria morrer de tanta felicidade. Não acreditava que aquilo tudo fosse para mim. Mas acabou com ônibus, ronco e 12 horas seguidas de choro. Eu não compreendi. Nos vimos algumas vezes depois e nos falamos outro dia. Que bom saber que você existiu daquele jeito maravilhoso. E que ainda está em algum lugar.
Aqui está o único ponto que eu não gosto muito de lembrar. Porque o marco foi dor, muita dor. Uma paixão incrível por uma pessoa completamente adoentada. Que mudou a minha história. Foi a primeira vez que me assassinaram e eu perdi um jeito de sorrir que tinha, sabe Quintana? Não acho que valha a pena lembrar das partes boas, mas ao seu lado eu passei a melhor noite da minha vida. E só por isso, já valeu a pena. Pronto. Todo o resto é ruim.
Você veio consertar tudo o que ele despedaçou. Pegou caquinho por caquinho e recolocou no seu devido lugar. É anjo. Deu carinho, atenção e cuidado. Me fez sentir merecedora e, hoje em dia, escolhida. A melhor pessoa que já passou pela minha vida. E que me marcou mais que qualquer outra, para sempre.
Você sacolejou e me fez ver que era capaz de me apaixonar de novo. Fez graças que não tiveram graça alguma. Não entendeu o que eu sentia, nem deu crédito. Não fez carinho ou questão de valorizar. Me fez ver muita coisa que não quis, mas nunca parece ter tido a real noção do que eu senti. Mas pediu desculpas, e por isso, eu perdoei. E te quero bem.
Você ainda não passou. Mas, a cada dia, as memórias parecem mais distantes. Uma pena que a intensidade possa ter sido tão desmedida - e causado tanto estrago. Espero que um dia possamos rir juntos de novo.

Sim, eu me apaixonei várias vezes, ainda bem. E sabe qual é o melhor de tudo? Saber que tem muito mais por vir.

Ando comigo

domingo, 24 de outubro de 2010

Hoje a minha amiga, muito estupefata depois de eu falar o que tinha feito na última noite, disparou o tiro: "Renata, você já reparou que faz dois sábados seguidos que você não sai para a balada?"
Eu tinha reparado. Na verdade, percebi isso enquanto olhava da minha cama pela janela e via o céu carregado na madrugada deste mesmo sábado. De camisola debaixo dos cobertores, eu respirava aliviada por poder dormir a hora que quisesse sozinha, sem ter ninguém a quem agradar. E também por não ter qualquer compromisso que me forçasse a sair dos meus ultraconfortáveis e convidativos edredons antes do exato momento em que desejasse. Tudo bem que acordei com um barulho de secador no banheiro ao lado, mas já eram 2h15 da tarde e o fim de semana voa. O fato é que escolhi, nesses dias e muitos outros recentemente, ficar bem quietinha comigo mesma. Pessoalmente, essa escolha é bem dificil. Na maioria das vezes, prefiro estar com qualquer outra pessoa. Mesmo que nos decepcionem, nos entediem e desagradem, distrações exteriores são sempre mais bem-vindas do que nossa própria companhia. Isso somente para alguns, é claro, eu inclusa. Mas acho que, no fundo, a novidade é boa. Significa que eu estou começando a apreciar melhor os momentos que tenho ao meu próprio lado.
Esses dias desejei loucamente chegar em casa logo para pedir comida chinesa e ver qualquer seriado desimportante na TV. Em algumas noites, recusei convites para drinks e vernissages para poder me embrulhar logo em meus acolchoados papeis de presente pessoais. Cheguei até a dar uma arrumadinha no meu armário, isso depois de chegar em casa e fechar logo a porta do quarto, hábito raríssimo e reservado aos momentos em que realmente não estou para papo com as colegas de casa. Minha próxima compra? Um abajur. Para poder ficar mais à vontade, à meia luz. Comigo.
Hoje também saí do filme na Mostra mais cedo. Não costumo apoiar esse tipo de decisão, mas eu estava cansada, com sono e um pouquinho de vontade de morrer de tanto tédio. Busquei aprovação das companheiras. "Você está gostando do filme? Acha que alguém vai me recriminar se eu for embora?" Depois do aval, fui. Fiquei superfeliz de ver que podia andar sozinha pelas ruas, entrar no meu carro e, enfim, já estar tão pertinho de casa. Sorridente, sem drama, sem indecisão.
Acho que o próximo passo é levar essa descoberta da solidão alegre para fora dessas quatro paredes. E ganhar a liberdade das ruas, como já diria um amigo. De mãos dadas comigo mesma.

Quem é que vai saber como funcionam essas coisas

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Eu preciso confessar que ando assustando a minha psicóloga.
Ela tenta disfarçar. Age como se fosse tudo muito normal. Mas existem duas hipóteses: não me aguenta mais ou me considera um caso perdido. Ela gosta de mim, entende. Dá para perceber e ela também diz. Mas ontem, quando eu falava pela milésima vez sobre o que eu sinto, como sinto, todas as minhas razões de ser, quando repetia exatamente as mesmas palavras de sempre, quando baixava os olhos da mesmíssima maneira, quando dizia o quanto este momento da minha vida é absurdamente difícil, ela afirmou, sólida e resignada:
- Renata, você precisa se libertar disso. Essa fase já terminou.
Eu disse que já sabia. Sim, é claro que eu sei. Mas espera aí, quando eu me sento aqui, você não tem que escutar absolutamente tudo que eu digo? Você não é a única pessoa no mundo que tem obrigação profissional de ouvir as minhas lamúrias, no matter what? Quando ela disse que a fase já tinha terminado, eu me toquei que realmente, não há mais o que fazer. Na verdade, não entendi isso naquele momento, mas soube imediatamente que percorreria este exato caminho quando me pusesse a refletir, sozinha. Porque raramente eles dizem o que sentem, né, os psicólogos. Senti que, por ela se dar a este trabalho, é porque de fato eu estou mais do que estagnada. Quando eles concordam com o que a gente acha de nós mesmos, aí a coisa fica feia. Significa estagnação total.
Me pergunto sempre quando diabos esta fase péssima vai terminar, ao passo que sei que quem atrai coisas positivas ou negativas somos nós mesmos. Resumindo, a teoria toda funciona muito bem na minha pobre cabecinha oca. O problema, como sempre foi, é colocar em prática todas essas reflexões oriundas do divã. Porque se eu conseguisse, já seria um ser humano perfeito - se é que vocês acreditem que seguir as guias da análise nos tornam seres humanos melhores. Decididamente, algo a se pensar.
Mas de problemas, posso destacar alguns. 1) Passo tempo demais sentada naquela redação de jornal pesquisando coisas inúteis. 2) Sou pouquíssimo organizada na hora de transformar sonhos em planos. 3) Saí do twitter e facebook, mas esses desviadores de atenção já começam a me fazer falta. 4) Me importo demais com tudo e se não fosse assim, seria tão mais fácil. 5) Leio e escrevo pouco demais.
Dito tudo isto, continuo estagnada. Sou preguiçosa, a verdade inteira é esta. Digo para todos os meus amigos que precisamos de alguém que nos complemente, e não que nos complete, mas isso não é o que eu mesma faço. Tenho uma inveja terrível de um amigo que me disse outro dia que ele não sente essa necessidade de um amor, de estar apaixonado, que a maioria das pessoas têm. Como eu queria ser assim.
Como eu queria, um dia que fosse, me sentir plena, satisfeita. Só consigo me lembrar de um em que eu tenha sentido exatamente isso, e é o dia que costumo classificar como o mais feliz da minha vida. Será, então, que ao contrário de tudo que sempre pensei e defendi, plenitude é mesmo gerador de felicidade?
Sigo sem saber.

Obra

sábado, 18 de setembro de 2010

Levantar o prédio de dez andares.
Demoli-lo.
Afastar-se durante a reconstrução.
E se contentar com a possibilidade de que ele não passe mais do térreo.

Não era para ser diferente, desta vez?

Tudo, menos isso

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Eu aguento qualquer coisa: ficar sozinha, ver filme no frio sem ninguém pra esquentar, ouvir as histórias péssimas das amigas e tentar aconselhar, passar o dia inteiro bem entre um trabalho e outro, tomar floral de Bach e fingir que a felicidade é esse dia a dia que a gente vive de coisa pequena e poucas surpresas.

Mas não me venha com esse barulho de mensagem no celular à noite.
Que aí eu desmorono.

Parece amargura, mas é fortaleza

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Cada dia eu me sinto mais próxima e mais distante.
Mais próxima de mim e mais distante de você.
Com tudo isso que eu tenho visto por aí, tê-lo na minha vida tornou-se simplesmente insustentável.
Por isso, abdico. E humildemente, deixo-te ir.
Chega de pensar e repensar e pensar mais uma vez de novo. Eu escolho para mim coisas muito diferentes das que têm sido. E se é só isso que você pode me dar, I kindly refuse.
Aliás, vou me reservar ao direito de recusar seja lá o que for que você tiver para me dar. Já não me interessa mais. O que você faz já está fora da minha alçada de preocupações - antes tarde que mais tarde - e isso me alivia. Tiraram algumas toneladas das minhas costas que têm essa leve curvatura próxima à nuca. E esse afastamento me fez ver que sim, eu posso viver sem você.
E eu prefiro viver sem você.
Agora, pelo menos, sei o que quero e estou fortalecida. Quero quindins, sonhos de valsa e algodões doces. Se tiver um biscoitinho a menos, eu direi a mesma coisa que digo agora:
- Não, obrigada.
Antes só. Antes comigo.

Questão de gosto

domingo, 12 de setembro de 2010

Eu prefiro as goiabas brancas.

Do lado de lá da tela

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Existe vida além do mundo virtual? - pergunta a moça.
Não sei. Só saindo de tudo para descobrir. - vive a moça.

É por isso que eu não escrevo

sábado, 4 de setembro de 2010

Todas as noites, quando chego em casa, eu espero. Mantenho inconscientemente essa mesma esperança que eu já tive várias vezes antes de você: que o seu carro esteja na minha porta. É claro isso nunca acontece, é a vida tratando de me lembrar que não, eu não vivo dentro de um filme de romance e que, com pessoas reais, esse tipo de coisa é bobagem. Mas mesmo assim, um botãozinho dentro de mim liga e eu quero, eu torço, e nunca entro em minha garagem sem antes fazer uma inspeção por todos os lados possíveis. À procura de um carro que já esteve aqui tantas vezes e que pode nunca mais estar. Nessas horas eu queria ser outra pessoa, alguém que sentisse menos, que se importasse menos. Alguém que já tivesse experiência suficiente para não esperar mais esse tipo de coisa. Mas não, tem essa partezinha grande dentro de mim que precisa de ficção, e que vai atrás dela não importa o que aconteça. Não importa o que aconteça.
Ser a melhor companhia que existe para si mesmo é preferir estar com você do que com qualquer outra pessoa. Por que não pode ser assim?
É que a gente não se prepara bem para as coisas. É o mesmo com o ventilador que tem no meu quarto. Nos dias mais frios de inverno, eu duvido dele. Penso: nossa, este ano realmente não vai haver espaço pra essa coisinha, é impossível ficar tão quente a ponto de que eu precise dele. E hoje, não fosse ele, nem conseguiria dormir. Quando a gente encontra conforto, aconchego, quando sossega e fecha os olhos tranquilo, esquece que isso pode simplesmente mudar. Energia se transforma. Baixa a guarda e depois está sozinho de novo tendo que resolver toda a bagunça por si mesmo. Sem ninguém para ajudar.
Os dias frios foram duros este ano. Mas o verão chegou. Vai passar. Vai passar.

E quando?

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

E quando o mundo já não nos é mais familiar?
Quando a gente procura em tudo e já não acha mais nada.
E tem que viver, tem que levantar, trabalhar, conversar, consolar, doar.
E quando a gente para de receber, o que é que acontece?
Eu queria ser daquelas pessoas que acordam alegres, põem um disco na vitrola da sala e leem jornal enquanto comem uma omelete.
Eu poderia ser uma dessas pessoas.
Se soubesse como.

O que segura tudo

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

No fim, a única coisa que importa é se existe paixão ou não.
Se esteve lá, se segurou barra, se dividiu tristezas, se multiplicou alegrias, se fez planos, se tentou agradar, se quis compreender, se deu o seu melhor, nada disso importa.
Se não houver mais paixão.

O que é vaidade, de verdade

domingo, 1 de agosto de 2010

"Vaidade das vaidades, tudo é vaidade! Por exemplo, um homem que trabalhou com inteligência, competência e sucesso vê-se obrigado a deixar tudo em herança a outro que em nada colaborou. Também isso é vaidade e grande desgraça. De fato, que resta ao homem de todos os trabalhos e preocupações que o desgastam debaixo do sol? Toda a sua vida é sofrimento, sua ocupação, um tormento. Nem mesmo de noite repousa o seu coração. Também isso é vaidade."

Do Eclesiastes, meu livro preferido da Bíblia, Cap. 1, 2; 2, 21-23.

O meu passeio é no ar

domingo, 25 de julho de 2010

Naquela árvore, a terceira entre outras duas de tamanho igual, havia dois passarinhos fazendo um ninho no cair da noite. Não dava para ver direito, mas os galhos se mexiam com uma movimentação que não era a mesma de qualquer outra no mundo. Os gravetos iam e vinham, em ritmo marcado, com pausas e intervalos entre cada volta. As folhas dançavam de forma diferente naquele ponto específico da planta, então dava para perceber que não era o vento. Tinha algum bichinho ali coordenando o tear daquela casa, mas não dava para ver, entende?

Eu tive companhias especiais para o almoço. Pareceu até um encontro ensaiado: cada um dos personagens daquela mesa tinha seu papel. À esquerda, meu sangue; à direita, a mais genuína paz de espírito; à frente, o símbolo de uma resistência às adversidades e, ao seu lado, um pêndulo; mais à esquerda ficava a alegria da tarde. O sol também estava brilhando tanto e o céu, de um azul turquesa. Alguém teve a brilhante ideia de ir ao parque, e nos arrastamos pela grama verde. As vozes das pessoas e os gritos das crianças misturavam-se à calma de olhar para cima; o resultado era leveza. Aquela mesma que eu passei o sábado procurando, e sentindo falta, e sofrendo pela ausência. Peso que me fez sucumbir à queda de pressão durante o trabalho, e que me deitou na cama para não jogar no chão. Peso que aumenta o nosso próprio peso. E que não é divino, porque divina só é a paz.

Às vezes me engano, achando que o edredon vai me proteger de todos os perigos do mundo. Como uma pitada de açúcar, vai reduzir a acidez de um dia cheio. Só que, em outros momentos, um cobertor é mesmo tudo que a gente precisa para se acalmar. É como se fosse uma imersão em água quente de ofurô, com aroma de pétalas de rosa - eu juro que posso sentir este perfume agora, porém mais cítrico, que é como eu gosto. A metafísica da vida seguindo sua cadeia de idas e vindas, assim como os pássaros fazem, sem saber. Felizes deles, porque quanto mais a gente sabe, mais a gente duvida. E eu estou cansada de duvidar, agora aposto na fé com todas as minhas fichas. É assim que deve ser.

Brilha no céu, tsuru

domingo, 4 de julho de 2010



Você ainda tinha muita coisa para contar. E eu, um mundo para fazer você saber.
Às vezes, tenho vontade de mandar um e-mail. Outro dia, quase peguei o telefone para te ligar quando me perdi na rua. Porque você era a única pessoa que me atendia em qualquer ocasião. Na verdade, eu não consigo me lembrar de um só momento em que não tenha atendido o celular, conversado comigo, muitas vezes sem poder. Muitas vezes atolado de trabalho, como você sempre estava. Você nunca me deixava esperando.
Mas de repente, o que aconteceu foi uma espera sem tempo determinado para terminar. Digo espera porque realmente acredito que vá te ver de novo. É que você parece mais vivo do que nunca dentro de mim. Quando olho suas fotos e registros de conversas online que tínhamos, fico um pouco triste. Choro. Mas não parece que você se foi. Na verdade, esta é a parte mais enlouquecedora e difícil de acreditar. Sinto que, a qualquer momento, você vai tocar a campainha da minha casa. Ou vou te ver dobrando a esquina, de moto e capacete preto com adesivo da Apple. Ou que você, uma hora, vai chegar, mesmo que atrasado, naquele jantar que uma amiga marcou na casa dela. E vai vir me trazer um prato de sopa ou levar para o hospital quando eu ficar doente.
Aliás, Doug, preciso contar que algumas vezes não quis te chamar pra festas aqui em casa. Sempre lembrava de te convidar, mas houve ocasiões em que não fiz isso. Confesso que tinha pouca paciência - essa arte era sua, e não minha. Me arrependo. Posso ter te trocado por uma ou outra companhia que com certeza me fariam muito menos falta do que você faz hoje. Mas, quem sabe, isso me faça aprender a decifrar o verdadeiro valor das pessoas de uma vez por todas.
A sua morte me fez refletir muito sobre a minha vida. Acho que de uma forma que você sempre quis que eu fizesse, mas nunca conseguiu. É claro que você respeitava minha forma incansável e atropelada de viver a vida, aliás, tão diferente da sua. Falta meditação, né? Eu vou aprender a meditar. A qualidade das minhas reflexões deu um salto tão alto que quase me fez te agradecer por ser tão generoso comigo. Mas a isso, agradeço sozinha, em casa, quando penso em como sou uma das preferidas de Deus por conhecer, como só eu conheço, uma pessoa... me faltam adjetivos. Uma pessoa incomparável com qualquer outra, como é você.
Outro dia, fui num restaurante japonês. Comi um monte de sashimi de salmão, peixe branco e até de atum, que era o seu preferido. Fui também a um bistrô aqui perto, onde já fomos umas três vezes, você lembra? Não pedi ainda os mexilhões ao molho de coco, mas vou pedir de uma próxima, juro. Hoje, fui a uma peça de teatro que falava sobre morte por acidente de carro. Como tudo pode acabar com a luz de um farol alto na nossa frente. Consegui fazer tudo isso e alguns amigos me disseram que sou forte. Mas não consegui olhar direito quando te colocaram no lugar onde a gente não pode mais te ver. Eu joguei uma rosa branca e saí de perto. Doug, era quase pôr do sol, mas os raios lindos e claros que surgiam entre as árvores batiam exatamente em cima de você. Não sei se mais alguém viu isso, mas para mim foi muito, muito claro que você nos dizia que ia ficar tudo bem.
Eu ainda quero jogar paintball. Lembra quando nós fomos comprar aquela arma supercara naquele lugar tão estranho? Sei que, depois, saímos para jantar, e por isso acho que ainda estávamos namorando. Mas eu tenho dificuldade para lembrar se alguns episódios foram antes ou depois de já não estarmos mais juntos. Porque nunca houve mágoa ou qualquer tipo de resentimento. Você sempre disse que queria que fôssemos amigos independentemente de tudo. Sempre foi assim, sempre vai ser.
Eu assisti a Cerejeiras em Flor e também lembrei de você. Te mandei uma mensagem de celular uma vez perguntando se já tinha visto essas árvores floridas no Japão - minha mãe viu o filme e falou que era a coisa mais maravilhosa que existia. Você disse que sim, e eu lembro que fiquei feliz por você já ter feito tanta coisa. Você sempre fez tudo que quis, e deixou inúmeras vezes de fazer o que não quis. A sua fidelidade aos outros e a você mesmo era tão grande que nunca te deixou trair alguém ou a sua própria vontade.
Eu sei que você não quer me ver triste, e eu prometo que estou segurando a onda muito bem. Só não esperava que tivesse que ser assim... definitivo. Passei por momentos de negação absoluta, de desespero, houve ocasiões em que havia várias pessoas ao meu redor, mas tudo o que eu queria era uma coisa que não ia acontecer mais: conversar com você. Ainda é muito difícil para mim aceitar essa incapacidade de reverter as coisas. Meu sonho era que alguém me falasse que foi tudo uma brincadeirinha e logo você estará de volta. O fato é que ando triste, mas de cabeça erguida. Torço para a vida me fazer, um dia, entender tudo isso. Também torço muito por um sinal, para saber como você está de verdade. E te admiro pela assistência que tem dado à sua mãe nesse sentido - sei a conexão que vocês dois têm. Acredito que você vá falar comigo quando puder, e por este momento aguardo calmamente. Nesta arte do esperar, em que nunca fui mestra, mas que você continua me ensinando mesmo além da vida.
Eu ainda vou te dar o texto que você merece um dia, Doug. Nós dois sabemos que não é este. Poderia ser aquele que fiz durante o voo e acabei perdendo no avião, né? Mas acho difícil, de repente era para ter sido realmente apenas uma catarse. O tsuru vai ser tatuado e a viagem ao Japão vai acontecer o quanto antes eu puder. Obrigada por saber que estou dizendo a verdade, é essa fé inabalável que você sempre teve em mim.
Não sei, entretanto, se vou voltar a Campos do Jordão. Ou se vou conseguir entrar no seu quarto da próxima vez que visitar seus pais. Não sei se vamos fazer, novamente, um festival de temaki como aqueles daqui de casa e da casa da Gi. Ou se vou ao estádio do Morumbi assistir a um jogo do São Paulo. Por outro lado, te prometo várias coisas. O Luisinho vai ouvir as mais belas histórias sobre o tio com mais cara de samurai que ele poderia ter. Eu vou sempre te contar as minhas novidades nesse ouvido invisível que nós dois estabelecemos. Vou andar muito a pé de um lado para o outro no Japão, como você dizia que tinha que ser. Não vou ligar tanto para o dinheiro gasto. E nunca, nunca mais vou ter uma briga daquelas proporções com os meus pais, que te adoram, e são as pessoas mais importantes da minha vida.
Isto aqui é puro retrato de saudade, então me desculpe se soa um pouco banal. Não sei se há homenagem no mundo que possa chegar perto do que você merece. Mas podendo, Japonês, não esquece de me dar um alô e contar como andam as coisas - você conhece este meu coração inquieto. Agradeço muito por ter vindo para SP, te conhecido logo em seguida, ter sido sua namorada por um ano e sua grande amiga desde então. Tudo que me fez convergir a você é, na realidade, uma grande bênção. Mas você faz uma falta irreparável perto da gente. Fisicamente, né. Porque longe dos nossos corações você nunca vai estar.
Até logo, Japonezinho. Vê se se cuida, hein?

Eu mudei

domingo, 2 de maio de 2010

Vim aqui só para dizer que estou mudada: agora quero homens que me liguem no dia seguinte.

Simples assim foi que eu notei ser

domingo, 25 de abril de 2010

Eu assumo: às vezes, é mesmo o clichê que traduz nossos desejos mais íntimos. Aquelas coisas simples que a gente vê em cena de filme bobo e que eu acabo de assistir na Warner: duas pessoas, deitadas no sofá, olhando a tevê e rindo de qualquer babaquice. Ainda com a chuvinha que caiu agora, então, mais que perfeito. E uma xicarazinha de chocolate quente, ali na padaria da esquina, mais um biscoito amanteigado para arrematar o paladar. Coisas simples que podem preencher vazios imensos, miudezas capazes de tapar buracos abertos e mal-cicatrizados. Como se fosse possível reaver o furo de uma latinha de Coca Cola, mesmo depois de já ter bebido todo o líquido. Ou passar a mão no machucado e ele sarar, mesmo sem interromper a queda. Reparos. Todo mundo tem direito a eles.
Deveria existir, aliás, uma lei universal pró-reparação de corações. Um antidotozinho ao qual todo ser humano tivesse direito, pelo menos uma vez na vida. E que pudesse usar quando achasse mais essencial. É claro que daria problema. Alguns se estapeariam, regozijando-se de dores maiores que as de outros e, portanto, necessidade de mais que uma dose da poção. E haveria brigas, e aí estaria mais um motivo para confrontos jurídicos de toda sorte. Outro porém seria o arrependimento: por que usei com aquele, e não com este? É que não apagaria memórias, aí estaria a graça. Tudo o que passou ficaria guardado, mas em um espaço de nostalgia boa como da adolescência. Nada de dor, de traumas ou empecilhos à felicidade. Descomplicado como uma fatia de pão de chapa e conversas sobre a programação da próxima semana. Mas que tivesse paz, entende? Que trouxesse paz. E alívio, porque é para isso que serve o romance. Não gosto de falar de amor - pleno demais - nem de paixão - me dá palpitações. É romance como a gente vê no cinema, na tela do computador, na porta das escolas e até na pracinha, de vez em quando. Algo despretensioso e que não significa, meu Deus, não está atrelado a qualquer espécie de compromisso matrimonial, duradouro; que não subentende conhecer família, ficar sábado à noite em casa ou não poder mais viajar sozinho. Outra coisa, estou falando de algo diferente, que só serve para dar prazer. E que alegra, seja lá como for, a qualquer pessoa que se abra.
Vem com um saquinho de recomendações, no entanto e obviamente. Para dar certo, por mais anárquica que seja essa categoria de sentimento de que falo, precisam haver algumas regras. Não quero me estender muito sobre elas por não serem o foco da questão, então darei apenas verbos. Número um: cumprir. Número dois: comparecer. Número três: esclarecer. É claro, tudo isso se resume à palavra honestidade, mas vai um pouco além disso e passa por vários outros conceitos abstratos que careceriam de mais detalhes. Fico com aqueles três infinitivos, suficientes para descrever anseios nada originais. Mas que podem complicar tanto uma pessoa que decide, antecipadamente, abandonar seu escudo. Ou abaixá-lo. Colocar na retaguarda, que seja.
É só disso que uma mulher precisa, homens. É só disso que uma pessoa precisa, mulheres.

Eu busco o irreal

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Outra noite eu tive um sonho com o passado.
Não era recente e nem fazia parte da memória direito. Misturava. Realidade e fantasia, igual às coisas que eu ando escrevendo sobre cinema para o blog do jornal. Eu sonhava que quase resolvia um problema antigo. Quase, porque permanecia sem solução, já que nem meu inconsciente é capaz de conceber um desenrolar pra isso. Nem os meus sonhos me dão essa ilusão tão necessária de perfeição.
Eu embarco junto, embarco mesmo. Mas será que, de fato, o que eu procuro nunca vai existir? Porque chega uma hora que o real me espanca, sabe como é? Eu me sinto nocauteada frente aos fatos. Não sei mais como fazer para encontrar essa terra do Nunca, essa Wonderland. Mas anseio por ela, desejo com todo o meu corpo, com todo o meu coração, e não encontro. Dou tantas topadas na vida que estou começando a acreditar no inimaginável: que essa irrealidade é tão inconcebível que nem em sonho eu consigo atingi-la.
Quer mais?

Meu Deus do céu, ilumine as mulheres apaixonadas

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Dói estar apaixonada. Dói. Se é paixão, dói.
Dói, e contagia. Reflete nas outras pessoas, por pouco sensíveis que sejam. Irradia dor e paixão e ódio e sofrimento. Vai como música triste, se alastrando e deixando marcas de perfume pálido, como sentimentos. Quando acaba.
Quando acaba, fere. E pior, pode nunca mais passar... nunca mais passar. Optar por si, desejar ser feliz, tentar esquecer ou transformar apenas os bons momentos em memória, ah, isso é coisa para quem nunca sofreu de paixão. Uma doença. Contagiosa. Que deixa pegadas de lama densa e escura na alma. Que marca para sempre. Que revira toda uma vida. É muito sério, é dor demais.
Eu tenho medo de não passar. De verdade. Temo só de pensar que uma juventude, uma pele alva, um cabelo brilhante, uma mente cheia de sonhos e uma cabeça guiada por desejos se deixem perder nos idos de uma paixão que foi embora. Temo que isso possa acontecer, porque acontece. Mulheres que se torturam e simplesmente, quando decidem ficar bem, deixam de sorrir. Deixam porque decidem, já que no fundo, nunca vão parar de sentir. O ar fica turvo. A cidade fica branca, vão-se as cores. O peito aperta como se fosse num ataque fulminante de desolamento.
Mais ninguém sabe como é isso, a não ser as mulheres apaixonadas que dão a vida pela penúria de sentir algo assim. Não há dor maior, não há gozo maior. Não há nada maior.
Rogai pelas mulheres apaixonadas. Iluminai o seu caminho. Salvai os seus espíritos ressentidos. Deixai que elas sigam. Que elas encontrem um caminho livre para seguir.