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Maratona

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Essas coisas a gente não sabe muito explicar por quê. Eu só sei que, um dia, resolvi experimentar. Pesava 100 kg e decidi fazer uma prova de 5 km. Me senti muito bem por concluir aquilo, foi sensacional, uma superação incrível. Daí, eu achei que poderia correr 10. Completando 10, pensei em fazer a meia-maratona. 21 km de corrida. Consegui, e pensei: por que não uma maratona inteira, de verdade, para ter no currículo das conquistas da minha vida?

Só que eu não estava preparado. Eu fiz aquela prova, mas não devia ter feito. Não é exagerado pensar que eu podia ter morrido. Me lembro até hoje de um cara que eu vi no km 41. Ele praticamente se arrastava, estava visivelmente mal. De fininho, surgiu a ambulância da organização ao lado dele. O médico falou: "Cara, você tem que parar agora. Você já está no lucro, já poderia ter morrido." E o rapaz argumentava, com respostas sucintas e objetivas, que não, que só faltava um quilômetro, que ele podia completar a prova. Mas não completou. O médico o colocou à força dentro do carro. Eu até desviei o olhar para o doutor não me recolher dali também. Não gosto nem de imaginar essa frustração horrível.

Se fossem mais dois quilômetros, bem que poderia ser eu no lugar daquele coitado. Porque a gente não faz ideia, parece bobagem, mas não é. Ninguém sabe de que o homem abdicou para estar ali, de todas as coisas que ele abriu mão naquele tempo todo de preparação para o desafio.

Quando eu completei a prova, chorei. Já cruzei a linha de chegada chorando. É uma realização plena, uma sensação de conquista, de que você é capaz. Se eu pudesse, faria uma prova ainda mais longa - tentaria fazer, só para saber até onde podia ir.

Mas eu sabia que já tinha atingido o limite do que era saudável. No dia seguinte, eu era um nada, tinha dores no corpo todo. Em alguns momentos do percurso, especialmente subidas, eu precisei caminhar. Me lembro do primeiro momento em que estiquei os braços, foi um estalo terrível. Imagine, esticar os braços! Até isso você valoriza mais.

Decidi que ia treinar para a próxima maratona. Corri quase um ano inteiro. Faltando dois meses para a prova, eu me machuquei. Quadril, sabe? Daí, tive que reduzir os treinos drasticamente. Fiquei arrasado. Com a diminuição dos esforços, eu melhorei. Senti que poderia, pelo menos, completar a prova em cinco horas como no ano passado - só para se ter uma ideia, o recorde mundial da maratona é 2h05 minutos. No dia anterior à corrida, liguei para o assessor de imprensa e pedi um número. Graças a Deus, não tinha mais. Nem sei o que poderia ter acontecido comigo, mas se houvesse vaga, eu pagaria para ver. Afinal, cruzar aquela linha de chegada foi, sem dúvida nenhuma, um dos melhores momentos da minha vida.