sobre a autora

Simples assim foi que eu notei ser

domingo, 25 de abril de 2010

Eu assumo: às vezes, é mesmo o clichê que traduz nossos desejos mais íntimos. Aquelas coisas simples que a gente vê em cena de filme bobo e que eu acabo de assistir na Warner: duas pessoas, deitadas no sofá, olhando a tevê e rindo de qualquer babaquice. Ainda com a chuvinha que caiu agora, então, mais que perfeito. E uma xicarazinha de chocolate quente, ali na padaria da esquina, mais um biscoito amanteigado para arrematar o paladar. Coisas simples que podem preencher vazios imensos, miudezas capazes de tapar buracos abertos e mal-cicatrizados. Como se fosse possível reaver o furo de uma latinha de Coca Cola, mesmo depois de já ter bebido todo o líquido. Ou passar a mão no machucado e ele sarar, mesmo sem interromper a queda. Reparos. Todo mundo tem direito a eles.
Deveria existir, aliás, uma lei universal pró-reparação de corações. Um antidotozinho ao qual todo ser humano tivesse direito, pelo menos uma vez na vida. E que pudesse usar quando achasse mais essencial. É claro que daria problema. Alguns se estapeariam, regozijando-se de dores maiores que as de outros e, portanto, necessidade de mais que uma dose da poção. E haveria brigas, e aí estaria mais um motivo para confrontos jurídicos de toda sorte. Outro porém seria o arrependimento: por que usei com aquele, e não com este? É que não apagaria memórias, aí estaria a graça. Tudo o que passou ficaria guardado, mas em um espaço de nostalgia boa como da adolescência. Nada de dor, de traumas ou empecilhos à felicidade. Descomplicado como uma fatia de pão de chapa e conversas sobre a programação da próxima semana. Mas que tivesse paz, entende? Que trouxesse paz. E alívio, porque é para isso que serve o romance. Não gosto de falar de amor - pleno demais - nem de paixão - me dá palpitações. É romance como a gente vê no cinema, na tela do computador, na porta das escolas e até na pracinha, de vez em quando. Algo despretensioso e que não significa, meu Deus, não está atrelado a qualquer espécie de compromisso matrimonial, duradouro; que não subentende conhecer família, ficar sábado à noite em casa ou não poder mais viajar sozinho. Outra coisa, estou falando de algo diferente, que só serve para dar prazer. E que alegra, seja lá como for, a qualquer pessoa que se abra.
Vem com um saquinho de recomendações, no entanto e obviamente. Para dar certo, por mais anárquica que seja essa categoria de sentimento de que falo, precisam haver algumas regras. Não quero me estender muito sobre elas por não serem o foco da questão, então darei apenas verbos. Número um: cumprir. Número dois: comparecer. Número três: esclarecer. É claro, tudo isso se resume à palavra honestidade, mas vai um pouco além disso e passa por vários outros conceitos abstratos que careceriam de mais detalhes. Fico com aqueles três infinitivos, suficientes para descrever anseios nada originais. Mas que podem complicar tanto uma pessoa que decide, antecipadamente, abandonar seu escudo. Ou abaixá-lo. Colocar na retaguarda, que seja.
É só disso que uma mulher precisa, homens. É só disso que uma pessoa precisa, mulheres.

Eu busco o irreal

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Outra noite eu tive um sonho com o passado.
Não era recente e nem fazia parte da memória direito. Misturava. Realidade e fantasia, igual às coisas que eu ando escrevendo sobre cinema para o blog do jornal. Eu sonhava que quase resolvia um problema antigo. Quase, porque permanecia sem solução, já que nem meu inconsciente é capaz de conceber um desenrolar pra isso. Nem os meus sonhos me dão essa ilusão tão necessária de perfeição.
Eu embarco junto, embarco mesmo. Mas será que, de fato, o que eu procuro nunca vai existir? Porque chega uma hora que o real me espanca, sabe como é? Eu me sinto nocauteada frente aos fatos. Não sei mais como fazer para encontrar essa terra do Nunca, essa Wonderland. Mas anseio por ela, desejo com todo o meu corpo, com todo o meu coração, e não encontro. Dou tantas topadas na vida que estou começando a acreditar no inimaginável: que essa irrealidade é tão inconcebível que nem em sonho eu consigo atingi-la.
Quer mais?