sobre a autora

A história da paixão

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Tudo começou com um cartão. "Eu fico com você e você fica comigo", ele dizia. Eu era jovem, acreditava que essa frase poderia fazer muito sentido. Mas, na verdade, você me ensinou que algumas ousadias não podem ser levadas adiante. E me fez sentir cafona pela primeira vez.
Depois teve você, ao meu lado na sala de aula. Você fofo, de olhos de esmeralda - eu me lembro de um poema assim, sobre o olhar e o sorriso. A forma como você me fazia sentir especial e querida, o coração se jogar quando eu te via, a paixão de verdade. A carta. E o "desculpe, não sinto o mesmo", com tanta consideração.
De você, eu lembro do alto da escadaria do segundo andar do colégio. Distância. Que começou com a proximidade de uma dança colada, apenas uma troca boba de palavras sem importância que se seguiria para uma quase obsessão, uma espera sofrida, planos e maracutaias. Foi um beijo descuidado, para satisfazer um sonho meu que não era seu. E depois, indiferença.
Até que veio você, finalmente. Depois de tanta espera, alguém que levei cinco meses para convencer que valia a pena. E que se entregou completamente e também pela primeira vez. Que respeitou, acompanhou e apostou, apesar de todas as diferenças que seriam decisivas. Que levariam a tantas brigas que eu já não consigo mais nem me lembrar direito. Que me faria chorar tanto, e por quem eu faria grandes loucuras. O primeiro relacionamento e o primeiro problema sério. A incapacidade. O alívio depois do término. A gandaia pública.
Você apareceu um mês depois e, mesmo que hoje o considere um cara bem legal, classifiquei-o por muito tempo como o maior exemplar dos cafajestes. Não sentiu nada, mas me fez acreditar. Uma bobagem para você. Para mim, um suspiro profundo.
Você também foi muito esperado. Lembro de tudo como se fosse um filme belo, raro. Porque você foi raro, e coloriu a minha vida com tons que eu nem sabia que existiam. Vi fogos de artifício, vi o mundo parar, fechei os olhos e queria morrer de tanta felicidade. Não acreditava que aquilo tudo fosse para mim. Mas acabou com ônibus, ronco e 12 horas seguidas de choro. Eu não compreendi. Nos vimos algumas vezes depois e nos falamos outro dia. Que bom saber que você existiu daquele jeito maravilhoso. E que ainda está em algum lugar.
Aqui está o único ponto que eu não gosto muito de lembrar. Porque o marco foi dor, muita dor. Uma paixão incrível por uma pessoa completamente adoentada. Que mudou a minha história. Foi a primeira vez que me assassinaram e eu perdi um jeito de sorrir que tinha, sabe Quintana? Não acho que valha a pena lembrar das partes boas, mas ao seu lado eu passei a melhor noite da minha vida. E só por isso, já valeu a pena. Pronto. Todo o resto é ruim.
Você veio consertar tudo o que ele despedaçou. Pegou caquinho por caquinho e recolocou no seu devido lugar. É anjo. Deu carinho, atenção e cuidado. Me fez sentir merecedora e, hoje em dia, escolhida. A melhor pessoa que já passou pela minha vida. E que me marcou mais que qualquer outra, para sempre.
Você sacolejou e me fez ver que era capaz de me apaixonar de novo. Fez graças que não tiveram graça alguma. Não entendeu o que eu sentia, nem deu crédito. Não fez carinho ou questão de valorizar. Me fez ver muita coisa que não quis, mas nunca parece ter tido a real noção do que eu senti. Mas pediu desculpas, e por isso, eu perdoei. E te quero bem.
Você ainda não passou. Mas, a cada dia, as memórias parecem mais distantes. Uma pena que a intensidade possa ter sido tão desmedida - e causado tanto estrago. Espero que um dia possamos rir juntos de novo.

Sim, eu me apaixonei várias vezes, ainda bem. E sabe qual é o melhor de tudo? Saber que tem muito mais por vir.

8 comentários:

Malu Braga disse...

É nisso que eu quero e preciso acreditar. Delícia de texto.

Débora Zampier disse...

ô gente, esses vocês das nossas vidas. parece um martírio eterno na hora que acontecem, mas depois são apenas lembranças boas de que... vivemos. p.s.: e que bom que a lembrança desse último está se apagando. sério, como eu disse esses dias, "manda esse porra à merda".

Na . disse...

Adorei a sua inscrição tão bem feita e tão sincera neste texto. Simplesmente adorei. :) Beijos

Unknown disse...

Xuxuzinha,

lindo esse post. Lindo mesmo.
Fico feli de sentir que você tá melhorando e que vc não desiste. =)
Amo demais!

Bjus

Ps.: Legal é ficar tentando adivinhar qual é qual =)

Ceciliafm disse...

gatinha, muito parabéns pelo texto.
muito bom, muito sincero e muito feliz. Desistir jamais, a gente sempre encontra alguém para se apaixonar por esse mundão...
beijos

Fred disse...

'like'

Tatiana Coêlho disse...

Sensacional Gata!
Nossa vida é cheia de "vocês", alguns ótimos outros nem tão ótimos assim...mas na pior hipótese rendem bons textos!
Esse último passa, sooner or later...
Adorei!
Bjinhos

Luísa disse...

Vida, só li isso hoje..
Que lindo texto!! Amei, amei!!!!
E, tirando os três primeiros que eu não sei bem quem é quem (porque a gente ainda não se conhecia), soube a cada primeira palavra quem eram os "vocês"! :)