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Infeliz fim

terça-feira, 3 de março de 2009

Final de crônica é um negócio difícil de acertar.
Eu sempre tive essa dificuldade, sabe, não captar muito bem a hora certa e, o que é pior, a forma certa de encerrar um texto. Mas achava que era uma coisa minha, uma burrice mesmo, algo totalmente à parte de todo mundo que faz coisa parecida. Mas aí, para minha alegria – e desespero da crônica – eu descobri que não. Que na verdade, ninguém – nem os deuses do assunto - sabe ao certo o momento e o jeito ideal de por fim à pobrezinha.
O mais desagradável dessa história toda é que, às vezes, um simples fim mal-acabado pode por fim a todo um esforço. E põe mesmo. Eu sou a primeira a me decepcionar. Até com Vinícius eu me desapontei por uma dessas. Oswald de Andrade himself também não tinha o paladar aguçado para o término e até Drummond dava suas escapadas antes de conseguir encerrar, realmente, o assunto da crônica. Será uma maldição?
Eu acho que é apego, mesmo. A história te suga de uma forma que o mergulho pode ser, simplesmente, fundo demais. Mesmo depois de parar, se distanciar, ler, reler e reescrever tudo quinhentas vezes, o final passa batido. Pode sobrar pras reticências, pra uma pergunta engraçadinha ou uma exclamação proposital. Tem a opção de desencanar, escrever mais uma frase e fazer dela, seja qual for, o fechamento brilhante – ou nem tanto. Afinal, me digam, como terminar algo que está palpitando dentro de você e que pede, aliás, implora para não ser finalizado?
Há de convir, é uma provação dolorida. Já que ninguém explica ao texto o que ele precisa fazer para nascer, ele presume que sua morte, como o nascimento, será inevitável. E luta pela vida, torna o fim o mais custoso, trabalhoso e agitado possível. Ora, poderiam chamar de fraqueza se não fosse assim, que se entregou, se conformou. Natural, então, a luta inevitável que o autor trava com suas palavras, que antes podiam soar doces e amigáveis – mesmo que amargas e duras ao leitor – nos momentos finais dos rabiscos. Parece que a caneta falha, o teclado fica todo misturado e os dedos se recusam a concretizar esse plano descarado. Todo mundo percebe, sabe, não adianta esconder. E a morte não é daquelas morridas, como o coração do velhinho que para de bater no meio da noite. É morte de faca. Despedaça, sangra. Difícil descansar em paz.
Eu já poderia começar a enrolar daqui, que já falei tudo que precisava. Mas o momento intragável está chegando e meus indicadores já começam a sentir. Também, vou esconder como? Tudo bem, tudo bem. Eu poderia colocar uma frasezinha de efeito, um negócio assim caprichado. Vou ali, tomo um banho, reflito durante a chuveirada e tenho certeza de que saio com alguma coisa na manga. Ou então termino aqui. É, por que não? Encerramento está tão em desuso, ninguém quer saber mais disso. Muito mais importante que terminar um tópico é discorrer sobre ele! Quem está comigo?

3 comentários:

Tatiana Coêlho disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Tatiana Coêlho disse...

Querida ando junto com vc na busca pelas crônicas "redondas, aquelas em que o começo dá sentido perfeito à organização das idéias nos parágrafos que por sua vez se entendem harmonicamente com o fim.
Também achei que fosse burrice minha, até ver gente que eu admirava com a mesma burrice!

Adorei o texto!!!
Beijosss

Débora Zampier disse...

é meu capetão. na verdade, eu estou experimentando um negócio de escrita diarréia mode. escreve, e acabou o pensamento? pára. nem que tenha arrumar uma coisa aqui e outra ali, mas em termos de estrutura, estou achando mais fácil escrever no fluxo de um pensamento, até mais natural. e mais que fechar de qualquer jeito, eu me pergunto: precisa mesmo fechar?
To aqui filiz com meu primeiro comentário no seu brogui.
Vida longa ao Tonho da Lua! Ops, me leva pra...