sobre a autora

Eu olhei para mim

domingo, 26 de junho de 2011

Hoje eu estava no Museu da Casa Brasileira. Almoçando com os pais queridos de uma amiga mais querida ainda. E daí, chega um panfleto: A Aliança promove um concurso que premia quem mais bem retratar São Paulo com uma viagem para Paris.
Outro domingo, eu estava no plantão de esportes. Algo totalmente inusitado para mim. A pauta? Torneio de tênis. Em Roland-Garros.
Me pediram para escrever sobre restaurantes que funcionam dentro de lojas chiques. Fui falar sobre o Ralph's, da marca americana Ralph Lauren. Onde ele fica? Paris.
Aí um amigo de Belo Horizonte e Brasília e SP chama para um showzinho. Num bistrô. Com uma banda francesa. No Twitter, um amigo diz que foi num restaurante muito "descolado". Achando a expressão engraçada demais, perguntei qual. Le Répas, outro bistrô. Um passinho na rua e vejo uma folha, muito pequena, em que estava escrito: "La vie avec laquelle on rêve peut-elle exister".
A vida com que a gente sonha pode existir. Já estou com saudade de Sp, e mais saudade ainda virá, martelante sobre o meu peito. De tudo, das pessoas, dessa solidão que já bateu tão forte, dessa solidão na minha cama macia, do armário sempre aberto que mostra minhas roupas coloridas. Da Marilyn e Audrey que pouca gente conheceu, do Astolfo e Rodolfo, minhas pantufas que terão de ficar, dos postais que descansam ao lado do meu armário. De toda essa confiança que mais uma vez eu largo e deixo para trás, pra uma distância tão maior, pra um afastamento que vai ser pessoal, que me é grande. Que me é duro. De me abster de tanta coisa para buscar uma felicidade que me é necessária, enquanto que totalmente sem garantia.
Da calma que eu sinto enquanto vejo a chuva cair pela janela.
Do cinza que vem com a neblina.
Das conversas sob o varal da área de serviço.
Das poucas vezes em que eu fumei narguilé na sala.
De ter tanta segurança, e de ser adulta, e de ter tudo aquilo que eu mais gostaria.
Dentro da minha mala eu vou levar tudo isso, pode apostar. E o que ficar, um dia, quem sabe, eu volto para buscar. E empurro quem estiver na frente, e grito, e esperneio na volta, e mando ir embora dizendo: sai daqui que esse quarto é meu.
=]

2 comentários:

Cecília Miranda disse...

Opa gatinha, que coisa boa, que seja uma bela aventura.

Leandro Iamin disse...

Renata, mon ami. Lembro de quando bati na trave para o RJ e para Portugal. Eu tremia. Se nasci para isso ou para o contrário, não sei. Não costumo chorar por aquele que não fui nem encano com aquilo que não tive. Mas a gente se pergunta quem seríamos, se mais corajosos, ou mais sei-la-o-que, fossemos. Tenho a pedante mania de achar que te conheço, e é mania irredutível. Reparar com atenção em você pode ser, para mim ao menos, como focar na pata do pavão enquanto ele faz seu carnaval acima da cabeça. É tudo mais terreno que poético nisso e, em contradição, é como se essa vontade toda de partir nascesse mais do imprevisto que do concreto. Do não-plano minuciosamente esquematizado, com a finesse tão altiva de seus olhos, que também são tão instáveis, pedindo peloamordedeus um golpe de certeza. Vejo você indo em sinal de doce desobediência, um deboche para levar a sério. Uns anos atrás muitos caras fizeram esse caminho por conveniência e culparam a ditadura. Seu exilio é sua própria subversão e também a sua liberdade condicionada. O peito está eriçado e te vejo à mercê do estrago, pronta para um pranto, uma paixão, talvez pronta para aprender mais sobre Renata que sobre França, Europa, temas de cursos quaisquer. Ao redor do cinto de sua calça haverá mais espaço para a densidade emocional, que aqui você encaixota com classe tipo Tóquio, desvairar-se na sua capital afetiva. Mais tempo e espaço, menos câmeras e testemunhas, para você não fazer nada de muito imprevisível: ser feliz e viver os melhores dias. Diz o poeta que, às vezes, quem parte é o porto. Tantas vezes se parte sem ser com as próprias pernas, e o que eu sei é que quem vai voltar não é quem vai partir. Do alto de minha arrogância em palpitar sobre você, creio que, misturado no meio de tudo de novo que vai descobrir, estarão, lá, coisas suas, que você perdeu por aí e precisam ser pegas de volta - eu suspeito quais são estas coisas mas você certamente sabe cada uma delas. Deixa pra lá o tanto que eu te gosto de graça e saiba o que já sabes: pessoas como você, especiais como você, merecem, para o bem do mundo, viverem muito próximas de suas melhores versões possíveis. Que você busque a sua.