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Coração de gramática

terça-feira, 1 de março de 2011

Ando muito tempo em casa, mas meu coração está na lua.
Entediado, sozinho e porquanto, aflito, ele me pergunta, insistente, o que deve fazer. Como precisa se comportar agora, em mais este período de entressafras que o deixa tão desocupado. Tipo quando eu era criança e, nas férias, comia leite moça à tarde vendo Jaspion. Às vezes colocava Nescau e, outras, botava no microondas para esquentar com muita canela pra ficar igual ao da Cantina Fiorella, uma casa italiana que eu ia com meus pais e fazia um leitinho quente e doce para a gente pegar na saída em vez de café. Leite que, anos mais tarde, eu veria que era feito com açúcar quase queimado na panela da casa da amiga.
Como o chocolate, meu coração se dissolve aos poucos. Anda para lá, anda para cá, e bate às vezes no compasso errado. Daí eu preciso avisá-lo que não é por ali, que assim não vai resolver nada, que chega de meter os pés pelas mãos. E ele, desesperado, me insiste para sair, dar a cara a tapas, andar por aí em busca daquilo que eu sempre procuro. Mas desta vez, estou cansada. Gastei todas as energias que restavam em uma língua que eu não aprendi. De tanto lidar com as letras, esqueci como se tolera as pessoas e suas tantas impreviões. O ser humano que não tem regras gramaticais. Que a gente encontra e não sabe como vai se comportar. Descansei tanto sobre os livros que fiquei com preguiça de contatos reais. E meu coração reclama por isso.
Tem gente que fala que é fase, eu não sei não. Às vezes, tenho medo de ter virado uma ermitona, se é que esta palavra exista, de verdade. Pelo menos estou com gás para me empetecar como se tivesse um compromisso muito importante me esperando.
Deve ser compromisso comigo mesma.
Mas coração, tem que ter paciência. É o que dizem, quando a gente menos espera.... mas sossega, que minha cabeça só tem vaga para uma paixão de cada vez. E agora, ela está longe, longe, mas pode ficar perto, perto...

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