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Nublado

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Porque fica melhor nublado,
porque combina mais com cinza.
Quando esquenta demais, a gente fica assim como sufocado debaixo dos sovacos nos ônibus, ou se espremendo entre as paredes do trem.
Isso quando não é empurrado metrô adentro.
E aí sua, e a roupa gruda no corpo e andar na rua se torna tão mais difícil – a próxima esquina só surge depois de um quilômetro, três bancas de revista e vinte mendigos pedindo esmola.
E logo que sai do banho, parece que já fica sujo de novo. Cabelo limpo, então, para ficar mais de um dia, só de milagre.
Então os tons de toda parte são frios, mas não porque o resto seja frio. Não exatamente.
É que os sorrisos não brotam assim tão fácil – é preciso trabalhá-los.
O azul de cima aparece quase nunca, costuma estar encoberto seja pela nuvem baixa, seja pelo concreto alto
E as roupas, as pessoas – sabe como é – acabam refletindo as colorações de todo o resto.
Isto é, colorido de tanto não tem vez. Não dá, não cabe, não faz vista. Cor muita numa vez só, só se for fluorescente. Verde-limão, vermelho-demais, amarelo-de-sol.
Que aí tem a desculpa de fazer parte. E de ser imprescindível.
Acaba sendo, mesmo, mas o todo, ah, o todo é acinzentado.
E belo, grandioso.
Cabe na palma de uma mão, mesmo sendo do tamanho de um mundo inteiro.
Estampado de xadrez e de zebra.
Preto, branco, grafite, negro, branco, amarelo.
Tudo se revirando como em espiral
numa infinita mistura de todas essas várias cores do arco-íris.

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